quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Experiência com leitura e produção de texto reflexivo




Em 2011 tive a oportunidade de ministrar aulas pela primeira vez em colégios da rede estadual, sendo um na zona periférica de Uberlândia e outro na região central de Tupaciguara. Estas são cidades de portes completamente dispares, sendo Tupaciguara um município de pouco mais que vinte mil habitantes, porém em ambas cidades pude diagnosticar problemas semelhantes, ou seja, ensino público defasado.
Coloquei-me a pensar no que poderia ser o problema: Falta de interesse dos alunos e alunas? Falta de interesse dos educadores e educadoras? Falta de interesse do governo?
Cheguei à conclusão de que há uma parcela de culpa para cada um destes e muitos outros como a família, sociedade, economia, cultura, etc... A lista de problemas é muito extensa, mas como Descartes propõe, em sua segunda regra do método, a melhor forma de solucionar um problema complexo é dividindo o mesmo em tantas partes simples forem possíveis. Não acreditando em receitas de bolo, mas levando em conta a experiência desse ilustre filósofo francês, resolvi me valer de tal método e desta forma me dispor a analisar uma pequena fatia da torta: os alunos e alunas.
Por um tempo me dispus, enquanto ministrava as aulas, a observar o comportamento destes estudantes, aos poucos pude perceber um problema, já apontado pelo companheiro Monteiro Fabrício no relato de suas experiências com a educação, que é o problema de turmas muito grandes para sala de aula muito pequenas. Um outro problema ainda mais grave é fato de que salas com tantos estudantes não permite ao educador respeitar a individualidade daqueles com o qual se compromete a desempenhar um trabalho qualitativo. Salas cheias geram tensão e desconforto nos estudantes, frustração nos educadores e desgaste geral.
Um segundo ponto que também pude observar, é o estado defensivo no qual estes estudantes se mantêm, encarando o educador ou educadora como o ser maléfico que quer abrir a suas mentes e enfiar miríades de conhecimentos inúteis para sua construção educacional, desta forma fica de um lado o educador ou educadora caminhando a curtos passos por temer aquele adolescente que até então lhe é uma incógnita e de outro lado o aluno ou aluna que se defende de tal bruxo. Estes estereótipos parecem terem se tornado comuns nas escolas e fazer com que tais preconceitos desapareçam é mesma dificuldade de se lutar contra qualquer outro tipo de preconceito.
E o terceiro e ultimo problema que elencarei nessa breve comunicação e qual pretendo discorrer, que é o problema de formação.
No dois últimos meses do ano letivo de 2011 um grupo de professores no qual eu estava presente resolveu montar um grupo de estudos que envolvessem alunos e alunas, assim como professores e professoras, na tentativa de despertar uma busca séria e embasada pelo conhecimento. Cada um destes professores e professoras fizeram convites abertos às suas turmas para participarem deste grupo de estudos de forma livre e espontâneas. Como já era esperado pelos organizadores e organizadoras o saldo de pessoas foi mínimo, mas como já mencionei, isto já era esperado. Aquelas pessoas que apareceram, foram motivadas pela curiosidade de saber o que era um grupo de estudos e o que seria estudado. A principio não tínhamos decidido o que estudaríamos, pois Cada professor e professora  ministravam disciplinas diferentes e cada aluno e aluna se interessavam por áreas diferentes.
Foi de uma destas análises da formação educacional que saiu o primeiro modulo de estudo deste grupo, ou seja, este grupo partiu da dificuldade que grande parte dos e das estudantes tinham em fazer leitura, refletir e produzir textos de forma autônoma.
Desta forma decidimos que nesses primeiros contatos faríamos a leitura de uma metodologia de leitura e produção de textos, de forma que os membros deste grupos desenvolvessem técnicas para leitura, resenhas, fichas, artigos, abstração, crítica e muitas outras técnicas que pudessem contribuir para autonomia, autoconfiança, reflexão e liberdade para o ou a estudante. Um dos objetivos do grupo de estudos é eliminar o abismo ilusório que há entre ambos os lados, diminuir ao máximo o índice de analfabeto funcionais, inspirar a pesquisa, de forma que quando alunos, alunas, professores e professoras carecerem de desenvolver projetos de pesquisas, mestrado, doutorado, entre outros, estes ou estas tenham se familiarizado, relembrado ou atualizado, normas como ABNT, necessárias para tais.
O objetivo do grupo não é tornar seus integrantes especialistas em normas, mas sim mostrar a existência de tais e por começar uma pesquisa, um artigo, uma resenha, etc.; além da produção de artigos, comunicações, crônicas, e produções do gênero à escolha do ou da estudante no decorrer do semestre, de modo que semestralmente ou anualmente aja material para a publicação de um periódico em tal escola. 
Como estávamos no final do ano organizamos poucos encontros e o grupo somava cerca de oito pessoas entre professores, professoras e estudantes. O curioso é que logo após as primeiras reuniões outras pessoas passaram a se interessar pelo que estava acontecendo, por influência dos próprios alunos e alunas. Outro fator importante que pudemos observar também foi o fato de que estes estudantes mudaram suas posturas durantes as aulas, passando a participarem mais das aulas. Estes estudantes passaram a ter autonomia e assumir voluntariamente responsabilidades, que vão desde a saída da sala de aula para irem ao banheiro, à conversar durante a aula. Estes alunos e alunas exerceram influência em seu meio de forma muito positiva, pelo pouco que pude observar.
Acredito que esta e outras práticas nas escolas poderiam provocar fortes e positivos impactos na educação em modo geral, ainda mais se houver ajudar de familiares, funcionários e funcionárias da escola. Não digo isso como uma proposta milagrosa, mas sim como algo a se pensar e caso não funcione, não se exima de mudar os planos, afinal se conseguirmos contribuir em uma mínima vírgula para positivo o nosso tempo, já seria esta vírgula uma revolução.
É importante ressaltar que este grupo de estudos é voluntário e conta com a iniciativa de pessoas que lutam por um mundo melhor.

Marcelo Silva, professor de filosofia da rede estadual de ensino de Tupaciguara, MG. Graduando em filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia. Membro do Coletivo Mundo Ácrata.

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