Antes de apresentar o relato dessa experiência, realizada em uma escola pública municipal na periferia da cidade de Uberlândia, Minas Gerais, em 2011, eu gostaria de colocar algumas ideias sobre como vejo as possibilidades de práticas educacionais anarquistas como propostas pelo Coletivo Mundo Ácrata. Esses pontos já foram explicitados pelo coletivo anteriormente (vejam nossa “Carta de princípios” no blog wwwacrata.blogspot.com), mas não custa nada esclarecer de novo.
Um dos objetivos do grupo – mas não é o único - é tentar experimentar formas de educação anarquista possíveis em espaços sociais já estabelecidos, como nas escolas públicas estatais. Estes são os locais onde a imensa maioria das crianças e jovens acaba caindo para receber a dita “educação” formal, seja por força das condições de vida ou por força de lei, já que no Brasil não matricular os filhos ou por quem se é responsável na escola é tido por crime de “abandono intelectual” e pode chegar à perda da guarda do “menor”.
Não acredito na escola como local privilegiado e específico de educação, muitas vezes a praça do bairro em que a menina vai brincar, a lojinha de aviamentos da mãe que o filho ajuda a cuidar à tarde ou a sala de espera que o adolescente fica na enfermaria por cinco horas, três vezes por semana, esperando o avô na hemodiálise são espaços educacionais muito ricos (e às vezes muito tristes...). A escola escolariza, ou pelo menos seria essa sua função principal. Entendo “escolarizar” como ação de criação de conhecimentos de forma mais sistematizada; tipos de conhecimento diferentes, aqueles mais difíceis de construir nos locais de convivência cotidiana da pessoa. Por exemplo, em minha convivência mais imediata, eu não teria ninguém para me ajudar a aprender inglês.
Mas a escola também educa. Não porque seja uma de suas funções especiais, ela educa na mesmíssima proporção de qualquer outro espaço social onde a pessoa se encontre com outras e conviva com elas: faça amizades ou inimizades, tenha que cooperar na realização de alguma atividade, lide com diferenças de opinião, de jeitos de ser, encontre outros indivíduos que se coloquem como autoridades por algum motivo qualquer. Ou seja, a educação na escola é correlata a que eu teria no meu trabalho na marmoraria ou no grupo de samba-de-roda que participo no bairro.Portanto, a escola é apenas um espaço educacional em que podemos intervir. Talvez ela esteja sendo privilegiada até agora pelas propostas do Coletivo Mundo Ácrata por ser o espaço onde a maioria de nós atua ou pretende atuar, mas nada garante que seja sempre assim.
Outro ponto que gostaria de esclarecer. Como dito, um dos objetivos do grupo é experimentar formas de educação anarquista também nas escolas públicas já existentes (e não, pelo menos por enquanto, fundar uma escola alternativa ou atuar em espaços próprios como em centros culturais), entretanto, é preciso que fique bem clara esta proposta de experimentação.Não acredito em uma formalização da educação anarquista. Procedimentos, receitas, princípios, métodos, ou seja lá o que for que acabe por cristalizar e limitar possibilidades que são variáveis para cada momento e realidade. Melhor seria deixar sempre no plural – formas educacionais anarquistas – para evitar que nos amarremos (já temos amarras de sobra dentro da própria escola!). Desse modo, o companheiro sensato perceberá que as experiências educacionais, as atividades e iniciativas relatadas aqui não serão funcionais para outras realidades. E nem devem ser, pois tudo deve ser fruto da construção conjunta de todos os envolvidos no processo educacional: esperar, por exemplo, que os estudantes, professores ou pais de uma escola tenham os mesmos interesses, angústias e decisões de outra instituição é uma ingenuidade que devemos superar.
Outro ponto que gostaria de esclarecer. Como dito, um dos objetivos do grupo é experimentar formas de educação anarquista também nas escolas públicas já existentes (e não, pelo menos por enquanto, fundar uma escola alternativa ou atuar em espaços próprios como em centros culturais), entretanto, é preciso que fique bem clara esta proposta de experimentação.Não acredito em uma formalização da educação anarquista. Procedimentos, receitas, princípios, métodos, ou seja lá o que for que acabe por cristalizar e limitar possibilidades que são variáveis para cada momento e realidade. Melhor seria deixar sempre no plural – formas educacionais anarquistas – para evitar que nos amarremos (já temos amarras de sobra dentro da própria escola!). Desse modo, o companheiro sensato perceberá que as experiências educacionais, as atividades e iniciativas relatadas aqui não serão funcionais para outras realidades. E nem devem ser, pois tudo deve ser fruto da construção conjunta de todos os envolvidos no processo educacional: esperar, por exemplo, que os estudantes, professores ou pais de uma escola tenham os mesmos interesses, angústias e decisões de outra instituição é uma ingenuidade que devemos superar.
Assim, o que em determinada circunstância pode ser uma iniciativa de um professor que demande imenso esforço e dificuldades para um pequeno passo rumo à construção coletiva da autonomia e liberdade, em outras realidades poderia ser considerada trivial. Conheço escolas onde o simples fato de o professor tentar reorganizar as carteiras de uma cela de aula, desmontando as filas de observação de nucas, já é um processo complicado e leva a imensos conflitos com a direção da instituição e com colegas professores. Companheiros que desconhecem tal realidade, e com pouca sensibilidade para tentar compreendê-la, até ririam dessa ação se eu a considerasse um exemplo de iniciativa educacional anarquista.
Os objetivos desses relatos, então, não é o de apresentar modelos, mas incitar a reflexão de cada companheiro (não só os que atuam em escolas) sobre sua atuação, sobre as relações sociais nas quais está envolto e como criar formas de ação que valham para sua realidade específica. Ação para a construção a passos mais ou menos largos, de alcance mais ou menos abrangentes, da autonomia e anarquia.
Os objetivos desses relatos, então, não é o de apresentar modelos, mas incitar a reflexão de cada companheiro (não só os que atuam em escolas) sobre sua atuação, sobre as relações sociais nas quais está envolto e como criar formas de ação que valham para sua realidade específica. Ação para a construção a passos mais ou menos largos, de alcance mais ou menos abrangentes, da autonomia e anarquia.
Link para o download dos Textos e dos Vídeos:
Textos:
Vídeos:
* Por Fabrício Monteiro. Professor de História na Educação Básica da rede municipal de ensino de Uberlândia, MG. Membro do Coletivo Mundo Ácrata. Aos curiosos quanto a sua formação acadêmica: graduado, mestre e doutorando em História (Universidade Federal de Uberlândia) e especialista em Psicopedagogia (Faculdade Católica de Uberlândia).
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